sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Olhando o mar, sonho sem ter de quê



Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

Fernando Pessoa

2 comentários:

Conceicao disse...

Este poema é lindo, mas desculpa lá - a foto não fica nada atrás!! Onde é que é?? Não me digas que é para os lados do Cabo Finisterra !
Zona maravilhosa!

Paula Chorão disse...

Por supuesto...en la Coruña...mas muito mais à frente do cabo Finisterra, é para os lados da cidade de "Ferrol" (não me recordo do nome do Cabo...), mas era sem dúvida maravilhoso, aliás toda a "Costa de La Muerte", é magnífica, todos aqueles cabos são fantásticos...ADOREI!
Nem sabem o que perderam não ter ido connosco.
Aconselho vivamente, quando puderem, não hesitem.